Causas Femininas

Um casal é considerado infértil quando não consegue alcançar a concepção após 1 ano de relações sexuais regulares sem uso de métodos contraceptivos. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 15% dos casais apresentam algum problema de infertilidade. No Brasil, estima-se que ela já acomete mais de 2 milhões de casais e sua incidência vem crescendo ao longo dos anos.

Uma das principais causas deste aumento, se deve ao fato de que, com a emancipação feminina, as mulheres têm adiado o projeto de constituir uma família em prol da carreira e com isso, começam a tentar engravidar em uma idade mais avançada, quando sua fertilidade já é menor. Ademais, a obesidade, o stress e os maus hábitos como álcool, cigarro e alimentação industrializada podem prejudicar a fertilidade.

As principais causas de infertilidade podem ser divididas em:

Causas Anatômicas

1. Uterina: alterações que deformem a cavidade uterina podem atrapalhar a implantação do embrião. Entre estas alterações estão:

– Pólipos: são protuberâncias que se formam no endométrio (tecido que reveste o interior do útero). Podem causar aumento de fluxo menstrual, embora muitos sejam assintomáticos.

– Miomas: são nódulos que se formam na parede muscular do útero (miométrio), podendo chegar a grandes volumes. Dependendo de sua localização e tamanho, podem deformar a cavidade endometrial e prejudicar sua vascularização. Apesar de muitas portadoras não apresentarem sintomas, é uma das principais causas de aumento de sangramento e dor pélvica.

– Sinéquias: são cicatrizes dentro do cavidade uterina, decorrentes de processos infecciosos ou procedimentos cirúrgicos, como curetagens e retirada de miomas.

– Malformações congênitas: são alterações na formação dos órgãos genitais durante a vida intrauterina que se apresentam de diversas formas, desde um fino septo dentro da cavidade até a duplicidade completa do útero.

2. Tubo-peritoneal: alterações que levam à obstrução, falta de mobilidade ou dilatação da trompas (hidrossalpinge). As trompas (ou tubas uterinas) são essenciais para a reprodução. O óvulo ao ser liberado pelo ovário e captado pela trompa. Os espermatozoides que estão vindo do útero nadam pelas trompas até encontrarem e fertilizarem o óvulo. O embrião formado, caminha, então, em direção à cavidade uterina, onde irá se implantar. Para esse transporte, tanto dos espermatozoides em direção ao óvulo quanto do embrião em direção ao útero, é muito importante a movimentação dos cílios do tecido que reveste o interior da trompa. Quando a trompa fica obstruída, torna-se impossível o espermatozoide chegar até o óvulo para fertilizá-lo. Quando está aderida (sem motilidade), dificulta que ela capte o óvulo e, se dilatada, normalmente já houve lesão do revestimento da tuba, que perde esse movimento ciliar. Com isso ocorre infertilidade e risco de que o embrião se implante na trompa (gravidez ectópica), não podendo progredir a gravidez. Entre as causas estão processos infecciosos prévios, que mesmo tratados, podem ter levado a uma lesão irreversível das trompas. Outras causas são cirurgias abdominais, que podem levar a aderências e processos inflamatórios, como endometriose. Importante lembrar também que uma causa frequente de busca por clínicas de reprodução é o arrependimento após laqueadura tubária  (procedimento que corta as trompas para evitar nova gravidez).

Causas endocrinológicas

Várias alterações hormonais podem levar à infertilidade ou perdas gestacionais no primeiro trimestre. Entre as principais alterações estão:

 – Alterações da Tireoide: esta glândula está situada na região anterior do pescoço e responsável pela secreção do hormônio tiroxina, importante para a regulação do metabolismo do organismo. Alterações deste hormônio (falta ou excesso) podem se manifestar como infertilidade, irregularidade menstrual, abortos de início de gravidez e alterações fetais.

 – Hiperprolactinemia: é o aumento do hormônio prolactina, produzido pela glândula hipófise (que se situa no Sistema Nervoso Central). A prolactina é importante para a lactação, estando aumentada na gravidez e puerpério. Seu aumento fora destes períodos devem ser tratados pois podem alterar os ciclos menstruais e atrapalhar a ovulação, levando à infertilidade.

 – Síndrome dos ovários policísticos (SOP): é um desequilíbrio hormonal, caracterizado por pelo menos 2 das 3 condições: ciclos menstruais irregulares, geralmente com atraso decorrentes da falta de ovulação; aumento de hormônios masculinos (que podem se manifestar por um aumento de pelos e/ou acnes); presença de múltiplos pequenos cistos nos ovários ao ultrassom. Sua causa ainda não é totalmente conhecida, mas parece estar relacionada com a resistência a insulina, que leva a um aumento da produção deste hormônio. Este, por sua vez tem ação no ovário, aumentando a secreção de hormônios masculinos e dificultando a ovulação.

Endometriose

Endometriose é uma doença que acomete mulheres em idade reprodutiva e que consiste na presença do endométrio (tecido que reveste internamente a cavidade uterina) fora do útero. Por razões ainda não totalmente conhecidas, este tecido pode se implantar em ovários, peritônio (membrana que reveste os órgão abdominais), trompas, bexiga, intestino, entre outros órgãos. Apesar de um grande número de portadoras assintomáticas, o quadro clínico normalmente se caracteriza por cólicas menstruais intensas, que podem evoluir para dor pélvica crônica e dispareunia (dor durante a relação sexual). Está frequentemente associada à infertilidade por vários motivos (não completamente definidos). Em estágios mais avançados, o processo inflamatório que ela causa pode levar a aderências, fibrose e distorção da anatomia pélvica, impedindo a captação do óvulo pela trompa e prejudicando o transporte dos espermatozoides e embrião dentro da trompa. Entretanto, mesmo sem alterações anatômicas, a endometriose leva a diminuição do desenvolvimento dos óvulos e embrião, além de prejuízo da implantação.

Baixa reserva ovariana

Muitas vezes a causa da infertilidade é uma baixa reserva ovariana (quantidade de óvulos disponíveis). Isso pode ser consequência do envelhecimento natural dos ovários. Muitas pacientes decidem começar a ter filhos em uma idade avançada e podem, neste caso, ter dificuldade por uma diminuição na quantidade como na qualidade de seus óvulos. Entretanto, mesmo em pacientes jovens, pode ocorrer um envelhecimento precoce dos ovários, o que pode levar a infertilidade e até mesmo a uma falência ovariana total, com a consequente menopausa precoce. Existem diferentes causas para uma falência ovariana precoce, que pode ser predisposição genética, alterações imunológicas, iatrogênicas (por cirurgias ovarianas prévias) e idiopática (causa desconhecida).

ESCA (esterilidade sem causa aparente)

Cerca de 15% dos casais inférteis apresentam todos os exames de investigação de infertilidade normais, entretanto não conseguem conceber. Talvez a medicina ainda não tenha evoluído o suficiente para descobrir a real causa de sua infertilidade.