Congelamento de Óvulos

O congelamento de óvulos é um procedimento que visa a preservação da fertilidade da mulher. Consiste basicamente em armazenar óvulos em laboratório para serem fertilizados no futuro a fim de se conseguir uma gestação. Sua principal indicação é para pacientes que serão submetidas a tratamentos oncológicos que possam ser lesivos aos seus ovários. Entretanto, atualmente vem crescendo o número de mulheres que optam pelo congelamento de seus óvulos por medo de perder a fertilidade com o passar dos anos.

O primeiro nascimento proveniente de um óvulo congelado foi em 1986 e, desde então, houve grande progresso desta técnica. Com os métodos de congelamento antigos, somente uma pequena porcentagem dos óvulos congelados sobreviviam ao processo de descongelamento. Com o avanço da técnica, atualmente, cerca de 90% dos óvulos sobrevivem, com taxa de gravidez em torno de 40%.

CongelamentoQuem deve pensar em congelar seus óvulos?

1) Mulheres que serão submetidas a tratamentos oncológicos.

Na atualidade, o  número de casos de câncer tem crescido na população geral. Paralelamente, os diagnósticos são feitos mais precoce e os tratamentos estão mais eficazes, conseguindo-se, felizmente, a cura com maior frequência. Entretanto, o tratamento dos diversos cânceres muitas vezes pode levar a infertilidade uma vez que a quimioterapia é tóxica para os ovários e pode causar um dano irreversível. Além disso, algumas vezes o tratamento inclui a retirada dos ovários. Isso leva a um grande problema pois, considerando que muitos cânceres ocorrem em pacientes jovens, alcançada a cura, é natural que essas mulheres um dia desejem uma gravidez, o que infelizmente muitas não poderão ter. Assim, o congelamento dos óvulos, antes do tratamento pode representar a única chance de se obter a gestação após a cura do câncer.

2) Mulheres solteiras com menos de 35 anos que por motivos pessoais não terão possibilidade de gravidez num futuro próximo.

Muitas mulheres chegam perto dos 35 anos sem ter encontrado o parceiro ideal para constituir família. Outras acabam adiando a maternidade para dar prioridade à carreira. Entretanto, muitas desejam no futuro ter filhos e estão cientes de que a fertilidade da mulher cai progressivamente ao longo da vida, tendo essa queda acentuada depois dos 35 anos. Para elas o congelamento se apresenta como uma proteção de seus óvulos contra o efeito da idade.

3) Mulheres com histórico familiar ou fatores de risco para menopausa precoce.

Algumas mulheres tem casos de familiares com menopausa precoce. Isso representa um risco aumentado para que também seu ovário entre em falência prematuramente. Além disso, algumas sabidamente tem alterações genéticas que predispõe menopausa precoce. Congelando previamente seus óvulos, essas mulheres terão uma chance de gravidez caso entrem na menopausa antes de ter conseguido engravidar.

4) Óvulos excedentes após um ciclo de Fertilização in vitro (FIV)

É comum num ciclo de FIV, que a mulher tenha um número grande de óvulos coletados. Se todos forem fertilizados, formarão um grande número de embriões. Como apenas uma parte deles será transferida para o útero (máximo de 2 ou 3) os outros deverão ser congelados. Muitos casais têm conflitos éticos e religiosos a respeito do congelamento do embrião, que já é uma vida. A grande preocupação é que se conseguirem engravidar, o que farão com os embriões excedentes. Nestes casos, alguns casais optam por congelar parte dos óvulos. Se num futuro, não desejarem mais outro filho, esses óvulos podem ser descartados sem ferir seus princípios.

Como é feito o congelamento de óvulos?

Um óvulo ideal para congelamento é um óvulo já maduro. A maturação de óvulos no laboratório ainda é experimental e com resultados não satisfatórios. Assim, antes do congelamento, os ovários devem ser estimulados para que os óvulos estejam já maduros quando forem coletados.

Dessa forma, o processo de congelamento é constituído de 3 fases:

1- Estimulação Ovariana: A mulher recebe, inicialmente, injeções de hormônios com o objetivo de desenvolver, nos ovários, vários folículos (pequenos cistos que contêm óvulos). Durante esta fase, faz-se um acompanhamento ultrassonográfico e laboratorial (dosagens hormonais). Num momento adequado (em média após 10 dias de estímulo), é administrado um medicamento específico para ocorrer a maturação final dos óvulos e é agendada a coleta ao redor de 34-35 horas após.

2- Coleta dos óvulos: Os óvulos são coletados através de uma agulha especial guiada por ultrassom transvaginal sob sedação. São, então, imediatamente encaminhados ao laboratório.

3- Congelamento dos óvulos. Os óvulos são avaliados pelo embriologista, para separar os que são maduros. Estes, então, passarão por um processo chamado vitrificação, que consiste em um congelamento muito rápido. Esse processo é mais eficaz que o congelamento lento (utilizado no passado) pois a rapidez com que atinge a baixa temperatura impede a formação de cristais de gelo e os consequentes danos celulares. Enquanto no congelamento lento, a temperatura baixa 0,3ºC por minuto, na vitrificação cai 23ºC por minuto ou seja, 70 vezes mais rápido. Os óvulos ficam então armazenados em um botijão de nitrogênio líquido a 196ºC negativos.

Como os óvulos são utilizados?

Quando a paciente desejar utilizar seus óvulos, ela então passará pelo seguinte processo:

1- Preparo endometrial. A mulher receberá medicações hormonais via oral ou adesivos para estimular seu endométrio (tecido que reveste internamente o útero). É realizado um acompanhamento com ultrassom e quando o endométrio atinge uma espessura adequada, é agendada a transferência dos embriões. Esse processo pode ainda ser feito em um ciclo natural, sem medicações, somente com os hormônios produzidos pelo próprio organismo.

2- Descongelamento dos óvulos. Os óvulos são aquecidos e, posteriormente, avaliados se sobreviveram ao processo. Em seguida, os óvulos viáveis serão fertilizados.

3- Fertilização in vitro. Os óvulos sobreviventes são fertilizados em laboratório com o sêmen do marido da dona dos óvulos, formando embriões, que são mantidos em uma incubadora em um ambiente que simula as condições de temperatura, oxigênio e nutrientes do trato genital feminino.

4- Transferência do embriões. Após alguns dias sendo acompanhado o crescimento dos embriões, estes são transferidos ao útero da mãe para que complete seu desenvolvimento. O procedimento de transferência é simples e não necessita anestesia. Um cateter é introduzido pelo colo, guiado por ultrassom, e os embriões são depositados com muito cuidado, dentro do útero, com o menor trauma possível.

Atualmente cada vez mais mulheres vem optando pelo congelamento de óvulos. Entretanto, elas devem estar cientes das limitações da técnica e que não é garantia de gravidez. Por outro lado, os avanços são encorajadores e hoje já é uma alternativa viável para a preservação da fertilidade.